Em "O Livro dos Espíritos" encontramos a resposta a esta pergunta: a oração é um ato sentimental, é uma ligação sentimental com Deus. Podemos, então, compreender que orar não é recitar palavras, mas emitir (sentir) sentimentos. Quem ora prestando atenção apenas nas palavras não está com "atenção plena" aos seus sentimentos e por isto podemos afirmar que não sabe orar.
A oração tem que vir de dentro de cada um. Ela é um sentimento que emana em direção a Deus.
Ao Pai, não a outros espíritos.
Sempre que nos elevamos em oração, dirigimo-nos a Deus, mesmo que nossos pensamentos estejam direcionados a outros espíritos. Isto ocorre porque só Ele sabe o que fazer com o que cada um sente durante a oração (dar a justa recompensa da oração). Desta forma, a primeira compreensão de hoje deve ser: a oração é ato sentimental.
Mas para que orar?
Em "O Livro dos Espíritos" também encontramos esta resposta: "A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é pôr-se em comunicação com Ele".
Mas, o que é para o espírito "sentir"?
Viver. A vida, ou seja, a animação, a intelectualização de um espírito é sentir sentimentos: sentir o amor com o sentido universal (a Deus e ao próximo) ou individualista (a si mesmo). A oração, portanto, é vida para o espírito, pois orando está vivendo a sua "existência espiritual": aproximando-se e pondo-se em comunicação com Deus.
Se tudo isto é verdade, por que, então, as orações contêm palavras? Por que até Cristo ensinou um "Pai Nosso" através de palavras?
Para que o ser humanizado saiba o que "sentir", que forma de "viver" espiritual aproxima o espírito mais de Deus. Desta forma, todo ser humano deve mais do que se preocupar com palavras ao orar, mas sua atenção plena deve estar voltada em colocar na prática aquilo que a oração "fala". Isso é orar. Orar não é rezar em um determinado momento pré-determinado (quando acorda ou quando dorme), não é dizer palavras bonitas em momentos específicos, mas é vivenciar no dia a dia os sentimentos que oração traz.
Para isto é preciso que cada um transforme a oração no "caminho da vida", na sua "forma de viver". Será sob este aspecto que estudaremos a "Oração da Paz, atribuída ao São Francisco", ou seja, transformando as palavras em sentimentos que deverão ser aplicados na vivência diária.
"Senhor, fazei-me um instrumento da vossa paz".
Neste primeiro verso descobrimos um ponto fundamental para a vida: viver para ser instrumento de Deus. É isto que Francisco de Assis nos leva a compreender desde o início. Quando pede para ser instrumento da paz de Deus ("vossa") ele demonstra que não quer agir por individualismo, a partir de nenhuma vontade própria (ser instrumento da paz dele).
Todo seu sentimento está voltado em servir ao Pai e por isto a única coisa que ele sente é o desejo de ser "instrumento" da paz de Deus.
A partir deste aspecto, para que possamos colocar a "Oração de São Francisco" como um guia para a vida, devemos compreender que, na visão do santo, há a necessidade de que cada um retire da sua existência tudo aquilo que "acha", "sabe", "conhece" (individualismos) da vida.
O sentimento que deve pautar a vida de cada ser humanizado é o desejo de ser simplesmente instrumento consciente de Deus.
Falo em instrumento consciente, pois inconscientemente todos já somos. A Oração da Paz de Francisco de Assis no primeiro verso, portanto, não pede a Deus que seja feita a sua vontade, mas que o Pai o utilize para participar das "ações do mundo" servindo de instrumento consciente da Sua obra. Neste pedido se reconhece a ação do sentimento básico para esta vida: Fé. Pedir a Deus para ser conscientemente instrumento do Pai e entender o mundo como ação de Deus (emanação divina) é o exercício da Fé: confiança total e entrega absoluta a Deus.
Exemplifiquemos:
Francisco apesar de gostar dos bichos não acusava quem os maltratasse. Socorria os "feridos", ajudava-os, mas nunca criticava quem agia como instrumento de Deus promovendo ações que "ferissem" os animais. Se ele assim fizesse estaria vivendo a sua vontade de que os bichos não fossem machucados. Vivendo com estes sentimentos teria que criticar e atacar aqueles que agissem provocando danos aos animais. Esta forma de proceder demonstraria a não compreensão da "ação de Deus" (Causa Primária de todas as coisas): tudo emana de Deus. Ele não podia condenar os agentes do carma dos bichos, pois desde o início da sua oração declara: "Senhor, fazei de mim um instrumento de SUA paz". Se atacasse quem foi o agente carmático do ferimento nos animal, Francisco estaria exercitando a não entrega, ou seja, a não concordância com a emanação divina.
No entanto, para isto não precisava abrir guerra (crítica, acusação) contra quem o machucou.
Agia em socorro e defesa dos animais, mas não reconhecia na ação um "mal" nem outro causador a não ser o próprio Pai. Isso é fazer a paz de Deus: amparar, auxiliar, ajudar quem está vivendo a sua ação carmática, mas sem críticas a ninguém como instrumento causador de "maldade", ou seja, compreendendo que ações provêm de Deus e não do homem e, por isto, é justa e necessária.
Esta também deve ser a forma como cada espírito ligado a um ser humano deve viver a sua encarnação. Se ele passa em uma esquina e lá se encontra "alguém" passando fome, deve ajudá-lo.
Pode servi-lo dando um prato de comida, levando-o para casa, dando banho, auxiliando-o a conseguir um emprego, ou seja, fazendo tudo que estiver ao seu alcance, mas jamais destruindo a paz de Deus (o que está acontecendo), criticando a sociedade, o presidente da república ou qualquer outra pessoa de ser o "culpado da situação daquele ser humano". Isto é servir de instrumento a Deus para levar a paz.
Levar a felicidade a quem "sofre" (passa por uma ação carmática que o desgosta) sem que para isto seja necessário guerrear contra os outros que levam, aparentemente, "vantagem" sobre a situação daquele que está "sofrendo". Nesta primeira frase da oração, portanto, entendemos que o sentimento básico para se ter todas as outras coisas é a Fé e que, a partir do momento que haja esta entrega com confiança a Deus, o ser humano simplesmente age para ajudar ao próximo sem colocar nenhum dos seus individualismos em ação. Sem colocar nenhum acento a mais no que Deus escreveu, sem colocar uma letra para dizer o que acha individualmente da situação.
Agindo dessa forma o espírito ligado ao ser humano estará levando a paz de Deus àqueles que precisam da paz, ou seja, todos: tanto os que estão na situação chamada de "sofredora" quanto àqueles que a humanidade acusa como "causador da situação".
Todos precisam da paz de Deus, ou seja, da compreensão da emanação divina.
"Onde houver ódio que eu leve o amor".
O que é ódio?
É o individualismo insatisfeito. Quando o ser humanizado não consegue o que "quer", quando não gosta do que é "feito", cria, primeiramente, a mágoa e a frustração. Elas se transformarão em raiva que levará ao ódio. Se o ódio nasce da contrariedade, o amor, aquilo que Francisco pede para ser instrumento, então, é a "satisfação com as coisas da vida" ou a felicidade sob quaisquer circunstâncias.
São Francisco, portanto, pede a Deus que, onde houver seres humanizados que tenham seus individualismos feridos (ódio) que ele leve o amor.
Mas não um amor qualquer, mas aquele que reflita a vontade de Deus (amor universal). Este é o desejo expresso neste verso, esta é "forma de viver" que Francisco quer para ele: que na sua vivência dos acontecimentos seja instrumento para levar a quem tem o individualismo ferido o amor a Deus que leva o ser humano a viver em estado de graça (felicidade incondicional).
Como levar a quem está passando por uma situação de "sofrimento" a felicidade? Ensinando-o a compreender a vida a partir da realidade espiritual, a compreender o universo, ou seja, a compreender o que chamamos de "lei do carma". O individualismo é o "querer para si", mas se um espírito ligado a um ser humano não precisa nem merece de um determinado acontecimento, Deus não lhe dará o fruto do seu desejo simplesmente porque ele "quer", para "satisfazê-lo". O Pai só dará a cada um aquilo que ele merecer. Portanto, para se receber algo do Pai é preciso que se faça por onde merecer: não basta apenas "querer".
O que gera o merecimento para o espírito é, no momento onde é contrariado, amar a situação, ou seja, ser feliz incondicionalmente.
Esta forma de proceder é ser um São Francisco, é agir como ele. Não é só passar a "mão na cabeça" de quem está "sofrendo" dizendo "coitadinho de você" ou simplesmente dar o prato de comida e virar as costas. É preciso, para se auxiliar o próximo, dar a vara e ensiná-lo a pescar e não apenas ficar alimentando-o com o peixe, que é um alimento fugaz e não nutre a alma.
É amar e ensinar aos demais a amar incondicionalmente. Amar a vida do jeito que ela está e ensiná-los esta forma de viver.
"Onde houver ofensa que eu leve o perdão".
"Ofensa" é sentimento que denota um individualismo ferido. Um espírito só se sente ofendido quando o que "acha", "quer" ou "gosta", não acontece. Novamente a mesma situação humana do verso anterior: individualismo ferido. Desta vez, porém, para contrapor a este procedimento do espírito humanizado Francisco pede a Deus que ele seja instrumento do "perdão". Portanto, precisamos compreender o perdão para encontrar a forma de vida sugerida na oração. Para os seres humanizados perdoar é uma coisa muito fácil, mas até hoje não conheço ninguém que tenha perdoado de verdade, a não ser aqueles que alcançaram a evolução espiritual. Isto porque para os seres humanizados perdoar é deixar de dar o castigo a quem merecia recebê-lo.
Alguém "pisa no seu pé", por exemplo, você sente dor, sofre, acha "errado" ter recebido o pisão, mas o perdoa, ou seja, não "pisa no pé" dele de volta. Pelo exemplo acima podemos, então, afirmar que se alguém fez alguma coisa "errada", você o perdoa dentro da visão humana, ou seja, não o castiga, mas continua afirmando que houve um erro, algo que não deveria acontecer ocorreu. Neste caso não houve perdão de verdade. Apesar de você aparentemente não haver castigado o "agente" da situação, ainda continua acontecendo um castigo, mesmo que não físico: a crítica, a acusação.
Você não o perdoou de verdade porque vivenciou uma crítica, um apontar de erro, que também é um castigo. Perdão é mais do que não penalizar fisicamente. Perdão é o que o Cristo ensinou na cruz: "Pai, perdoa, eles não sabem o que fazem".
Quando Cristo na máxima afirma "eles não sabem o que fazem" está dizendo exatamente isto:
"Pai, eles estão agindo imaginando que estão 'certos', mas nós, eu e Você, sabemos que eles são apenas instrumentos da Vossa vontade". Portanto, perdoar não é só simplesmente deixar de castigar, mas nem ver "erro", ou melhor, perdoar é dar ao próximo o direito dele estar "certo" a partir do seu ponto de vista. Não encontrar nada "errado" no que as pessoas fazem, ou melhor, não julgar as pessoas pelo seu ponto de vista é perdoar.
Para isto é preciso que o seu pensamento seja este: "ele praticou a ação achando que estava 'certo' e agiu em nome de Deus. Por isto, eu me eximo em dizer se ele está 'certo' ou errado'".
Quem age faz o que tem que ser feito: não há nada a ser criticado.
Quando a humanidade compreender isso, não precisará ficar ofendida e aí as críticas aos outros acabarão e o verdadeiro perdão surgirá. O perdão real surge da utilização da "igualdade", sentimento que forma o amor universal. Esta igualdade é que leva à liberdade de cada um.
A ação do próximo como instrumento do carma do ser humanizado foi transmitido claramente através de "O Livro dos Espíritos" na pergunta 132: "Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação.
Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus.
É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta".
Isto é levar o perdão onde houver ofensa. É chegar para aquele que está passando fome e dizer:
"ninguém está agindo contra você. Não há motivos para acusar alguém da sua situação nem porque ficar ofendido. Quem está criando a situação que você está vivenciando é Deus.
Não se ofenda, não se magoe, não se deixe levar pelo individualismo". Estamos falando de atitude moral, sentimental.
"onde houver discórdia que eu leve a união".
A discórdia existe quando duas ou mais pessoas estão "brigando", ou seja, onde há espíritos defendendo o seu individualismo para sobrepor a sua vontade a do outro.
Para estes, que eu leve a união: é o pedido de São Francisco.
A união, congraçamento, só acontecerá com o fim das vontades individuais. Jamais haverá união enquanto um espírito tiver vontade individual, pois não existem dois espíritos que querem a mesma coisa com a mesma intensidade. Para que se possa levar união, portanto, existe a necessidade de ensinar cada um a amar o que tem ao invés de querer possuir as coisas, ou seja, impor o seu individualismo ao do próximo. Este é o trabalho que Francisco de Assis pede a Deus que lhe faça instrumento: levar a cada um a compreensão de que ele já tem tudo o que precisa para ser feliz.
Mas, mais do que isto, explicar a cada um que ele não consegue ser feliz não porque seja azarado ou porque ninguém gosta dele, mas porque está preso ao seu individualismo, ao seu ego, que só lhe deixa ser feliz quando suas verdades são contentadas.
"onde houver dúvidas que eu leve a fé".
Que dúvida pode haver na vida de um ser humano? Qual a dúvida que você pode ter?
Só uma: saber o que está acontecendo na sua vida.
Esta é a dúvida de todo espírito: Para que nasci? Por que estou vivo? O que está acontecendo, realmente, no sentido espiritual, neste momento?
Francisco de Assis pede a Deus: onde houver dúvidas que eu leve a Fé.
Só a Fé, confiança e entrega total a Deus pode esclarecer a Realidade do mundo, a Verdade. Sem Fé jamais haverá compreensão da Verdade, do que está acontecendo realmente. Tudo que acontece no Universo é Deus agindo, é emanação de Deus. Só isso é Verdade, é Realidade.
Quer saber quem é você? Uma emanação de Deus.
Quer saber para que está vivo? Para fazer provas e durante as suas provas ajudar o próximo, ou seja, servir como emanação de Deus.
Quer saber o que está acontecendo agora? É Deus emanando amor por você e lhe fazendo vivenciar situações que são seus carmas, mas que também servem de instrumentos para o carma dos outros. Só isso. Mas, para se ver Deus em ação é preciso ter Fé: confiança e entrega.
"onde houver erro que eu leve a verdade"
O que é uma coisa "errada"? É aquilo que vai contra a "verdade", o que é "certo". Mas, se "errado" é tudo aquilo que vai contra a "verdade" quem pode dizer o que é "verdadeiro", ou seja, quem tem a Verdade do Universo? Quem pode saber o que é Verdadeiro, Verdade Absoluta?
Só Deus.
Somente a Inteligência Suprema do Universo tem a capacidade de analisar e compreender perfeitamente tudo que acontece e assim gerar uma Verdade sem retoques, Absoluta. O ser humano, como personagem criado pelo espírito para sua evolução, possui "inteligência", que é o próprio espírito que o anima. Esta "inteligência", no entanto, não é suprema, mas limitada de acordo com o seu grau de evolução. Ou seja, possui verdades que não são reais, mas que condizem o grau de evolução de cada um. É por isso que o ser humano não conhece a Verdade Absoluta, mas apenas a verdade relativa, ou seja, uma verdade baseada na sua limitada capacidade de compreender o universo. Se a "inteligência" do ser humano (espírito) não conhece a Verdade, como pode imaginar ter o poder de dizer o que é Real? Como pode afirmar que o que está imaginando das situações é Verdade? Somente quem conhece a Verdade pode saber a Realidade, ou seja, Deus. A nós espíritos, humanizados ou não, compete sair do "erro", ou seja, da ilusão da ação individual de cada um: achar que "eu ajo", que o "outro age", achar que as "coisas agem", achar que o outro pode fazer o que quiser. É desta ilusão de que todos agem por livre e espontânea vontade que surge o medo. A ilusão da ação individualizada e livre destrói a Fé.
"onde houver desespero que eu leve a esperança".
O que é um "desespero"? Quando o ser humano fica "desesperado"?
Quando acontece uma situação que ofende o seu individualismo e ele não consegue alterá-la.
Quando isto ocorre o ser humano entra no processo de sofrimento e depois, junto com a depressão, vem o desespero. Francisco de Assis propõe servir como instrumento de Deus àqueles que vivem desta maneira para levar a "esperança". Precisamos entender que "esperança" ele se propõe a levar, pois dependendo da forma como cada um encare os acontecimentos da vida, esta ação pode ter diferentes significados.
"onde houver tristeza que eu leve a alegria".
Agora Francisco de Assis quer combater a tristeza, o sofrimento, dos seres humanos, ou seja, mais uma vez estamos falando de um sentimento resultante do individualismo ferido (não gostar do que está acontecendo). Para isto pede para levar a felicidade ao próximo, que ele seja instrumento da felicidade do próximo. Ele não se propõe a levar o prazer (levar a razão), mas sim a grande alegria desta vida que é Deus, que é estar em Deus, que é estar com Deus. Esta é a felicidade que Francisco de Assis traz a todos e que é resultante da verdadeira liberdade: ser livre, completamente livre para ser feliz. Livre do seu "pior inimigo": você mesmo.
Enquanto você não compreender que sofre porque é escravo de você mesmo, é escravo do seu ego, das suas verdades, do que você quer e não lutar para libertar-se de tudo isso, não será feliz.
"onde houver trevas que eu leve a luz".
A Luz é Deus, é o amor de Deus: isso todos os mestres ensinaram.
Mas, e a treva, o que será? É o individualismo que obscurece a sua vida, o seu mundo. "Onde houver individualismo que eu leve o Senhor, meu Pai. Onde houver o individualismo que eu leve a Sua Verdade, onde houver o 'eu quero' que eu leve o Seu amor". Esta é a luz que o Francisco de Assis quer levar aos demais seres humanizados.
O que mais atrapalha a sua espiritualidade é a sua religiosidade. Enquanto você estiver preso a uma religião estará preso a um só mestre e uma só verdade e não encontrará Deus que é a Causa Primária de todas as coisas, a Verdade Absoluta do Universo. A soma do Todo. Levar a luz não é ensinar a idolatrar Cristo nem ensinar o cristianismo, Kardec ou o espiritismo. Não é transmitir os ensinamentos do hinduismo nem louvar a Krishna ou os do budismo e Buda. Levar a Luz é falar de Deus, ensinar a amá-Lo acima de todas as coisas, inclusive dos mestres e das religiões.
É apresentar aos seres humanizados o Senhor Onipotente, Onisciente e Onipresente do Universo. É levá-los a compreender a ação da Inteligência Suprema, do Amor Sublime e da Justiça Perfeita. Ensiná-los a vivenciar a Causa Primária de todas as coisas.
"Oh mestre, faze com que eu procure mais consolar do que ser consolado".
Até aqui, Francisco de Assis na sua oração estava pedindo para ser instrumento de Deus, ou seja, agir para o próximo auxiliando o Pai na Sua obra. A partir deste ponto, ele passa a falar do receber dos outros. Antes analisamos o que dar, agora vamos falar do que esperar receber pela doação amorosa.
O que é ser consolado? Quando alguém se sente consolado?
Quando alguém lhe compreende, dá carinho, dá atenção, ouve.
A partir desta pequena análise podemos compreender o que Francisco de Assis pede a Deus: "Senhor, que no trabalho de instrumento da vossa paz eu dê carinho e ajude aos outros, mas faça isso sem esperar receber o que estou dando". O caminho da elevação espiritual não passa pelo prazer individualista, ou seja, pela necessidade de se receber alguma coisa em troca pelo serviço ao próximo. Aquele que busca a elevação espiritual está sempre disposto a dar, a servir e não a ser servido. Está sempre atento em auxiliar o próximo e nunca preocupado em esperar que os outros lhe auxilie.
Francisco de Assis saiu pelo mundo "lambendo a ferida" dos outros e jamais buscando alguém que "lambesse" as suas. Procurando aqueles que estavam agonia, nas trevas e na discórdia para levá-los a Deus e nunca esperou receber em troca por isso "luz", união ou amor a si.
O que poderíamos dizer dos seres humanizados?
Que, no mínimo, são hipócritas. Mesmo os que seguem os preceitos de uma religião afirmam que o seu objetivo de vida é auxiliar o próximo, mas se aquele que foi auxiliado não lhe retribui, critica e acusa. Se o próximo não disser pelo menos um "muito obrigado" é condenado como um mal agradecido. Será que o objetivo deste ser humano era mesmo servir o próximo, ou sempre foi conquistar a fama, o reconhecimento?
Na verdade, a prestação de serviço do ser humanizado sempre é baseada na busca individual, na esperança de ganhar alguma coisa em troca. O ser humanizado busca constantemente consolar para ser consolado, pois assim exige o seu individualismo. Aquele que busca consolar para receber alguma coisa em troca, mesmo que apenas o reconhecimento do que fez por parte do próximo ou da sociedade em geral, é individualista. Francisco de Assis nunca buscou consolo para si.
"Que eu procure mais compreender do que ser compreendido"
Sabia que a pessoa que "briga" e acusa os outros seres humanos não está brigando com o outro?
Ela está brigando consigo mesmo, pois tinha uma verdade, uma paixão e um desejo que não aconteceu e a discordância entre o que possuía e o acontecimento a deixou revoltada, frustrada.
É por causa destes sentimentos que ela briga consigo mesmo e com Deus e não porque o acontecimento ocorreu de determinada forma. Se a pessoa não tivesse estas verdades ou padrões do que deveria acontecer, o que está acontecendo não lhe causaria revolta.
Sabe a pessoa que você acusa de estar ofendendo os outros?
Ela não está ofendendo ninguém, mas se defendendo dos outros, de Deus e do mundo, que agiram contra ela, contra as suas verdades. Esta é a "compreensão" que Francisco de Assis comenta neste trecho da sua oração: saber que cada um age em legítima defesa do seu "eu interior material", do seu ego, das suas verdades, dos seus desejos. Francisco pede a Deus para levar esta compreensão aos seres humanos, pois sabe que de posse dela eles poderiam não reagir contra o próximo. No entanto, pede também que Deus o auxilie a não esperar que as pessoas entendam seu ensinamento e reajam a ele com amor. É por isto que, apesar de só falar em amor, só levar Deus e Sua palavra à humanidade, as pessoas o caluniavam e criticavam, mas ele as amava da mesma forma. É a ajuda divina para não esperar ser compreendido que Francisco pede a Deus que lhe dê e esta também deve ser a que você deve pedir ao Pai para poder se tornar um "bem-aventurado", ou seja, viver na felicidade universal.
"Deus me dê forças, me dê intuição para que possa compreender a situação dentro da Realidade, dentro da Verdade, ao invés de ficar aprisionado neste mundinho do ego acusando todos, dizendo que estão me ferindo, quando na verdade todos estão se defendendo de mim, de Você e do mundo".
"amar do que ser amado"
Pedir a Deus para amar mais do que ser amado é um resumo de tudo que falamos até agora: "que eu faça os outros felizes, mas que a minha felicidade seja apenas por servir ao próximo como instrumento de Deus e não condicionada a ser servido". Ou seja, "que eu faça os outros felizes, mas não dependa deles para ser feliz".
"pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado"
Neste trecho da oração de São Francisco podemos ver a lei do carma.
Nele também encontramos a máxima de Cristo: fazer aos outro o que você quer que ele faça para você. No entanto, Francisco de Assis não fala em perdoar quem você quer perdoar, dar para quem você dar, ou seja, àquele que você julgue merecedor de receber, mas perdoar e amar a todos incondicionalmente. Vivenciar este ensinamento é a maior sabedoria que um ser humanizado pode alcançar, pois nele reside o motivo da existência carnal, o objetivo da encarnação.
Todos os espíritos que se encontram no Mundo de Provas e Expiações estão aqui para provar a Deus que são capazes de agir em benefício do próximo sem outra motivação do que o amor.
Para provar que são capazes de agir sem receber nada em troca; são capazes de dar independente de razões para tanto e sem esperar receber nada em troca; são capazes de amar, sem que para isso tenham sido amados. É para isso que você nasceu.
"é morrendo que se nasce para a vida eterna"
Cristo nos ensinou: em verdade, em verdade, vos digo, quem não nascer de novo não verá o "reino do céu". Em verdade aqueles que buscam a elevação espiritual sabem disto e querem renascer, mas se esquecem de que é preciso antes "morrer" para que aconteça um renascimento.
Só "morrendo" o ser humanizado pode viver no sentido espiritual (vendo o "Reino do Céu").
Mas, não se trata de morrer fisicamente, mas da morte do "eu", do "ego", derrubar as paredes da casa individualista que o ser humanizado habita.
Enquanto houver uma verdade, um desejo, uma paixão, o ser humanizado estará "vivo" apenas no sentido material, mas estará "morto", no sentido espiritual.
Quando ele se libertar destas coisas morrerá como é hoje e só aí renascerá para glória de Deus, alcançará a ressurreição, ou seja, voltará a viver na consciência espiritual.
Transcrição da Palestra A Oração de São Francisco, realizada pelo espírito Pai Joaquim de Aruanda
Fonte: https://www.veg11.com.br/oracao-de-sao-francisco-estudo.