Finar é o mesmo que morrer, é o findar do processo biológico, o fim do corpo físico.
Porém, importa esclarecer que deixar a dimensão da vida material não significa, para o Espírito liberto, o fim de seus sentimentos, dos seus ideais e das suas afeições.
O Livro dos espíritos é o primeiro dos cinco livros doutrinários do espiritismo. Nele, Allan Kardec formula perguntas que são respondidas por espíritos de elevada condição moral, chamados de Espírito de Verdade. No capítulo 6, intitulado "Da vida Espírita" foram formuladas dez perguntas sobre a comemoração dos mortos e funerais (perguntas 320 a 329). Perguntados se os espíritos se preparam para a comemoração do dia dos mortos, respondem que estes se sensibilizam pela lembrança que aqueles que amaram na Terra têm deles, ligando-se pelo pensamento. E ainda, que não são raras as vezes que vêm ao túmulo para o encontro, sendo este um modo de retribuição do carinho oferecido. No entanto, uma prece vinda de qualquer lugar os alcança com muito mais força e efeito, ou seja, não há necessidade desse encontro no túmulo onde foram depositados tão somente os restos mortais materiais.
A prece é a materialização positiva do pensamento na direção daquele por quem se ora.
O terceiro livro, O Evangelho segundo o espiritismo, em seu capítulo 17, "Pedi e obtereis", trata da ação da prece e transmissão do pensamento. Nele, os espíritos asseveram que a prece é uma invocação através da qual os seres se colocam em comunicação mental. Assim como o ar é o veículo do som, o fluido universal é o veículo do pensamento e se estende ao infinito. Daí a facilidade de acesso aos desencarnados.
Reafirmando o que já foi dito acima, não é costume da comunidade espírita a visita aos cemitérios com o objetivo de acessar seus mortos, pois sabem perfeitamente que pelo pensamento, pela prece sentida, podem fazê-lo. Os espíritas sabem que podem receber comunicações de seus entes queridos pela psicografia ou psicofonia, através de mediunidades sérias. Francisco Cândido Xavier foi o médium mais conhecido no labor de psicografar cartas dos espíritos para seus familiares na Terra, mas existem outros que continuam esse ministério. Além disso, veem com tranquilidade a possibilidade de se encontrarem com eles durante o sono físico, dependendo da disponibilidade do desencarnado, se os espíritos são acessados pelo pensamento.
Considerando, porém, que existe um trânsito no espiritismo de pessoas de outras religiões – entre elas considerável número de católicos, que praticam a dupla pertença, ou egressos, que trazem consigo costumes herdados – ainda há entre estes o hábito de cultuar o dia de finados, dirigindo-se aos cemitérios. O espiritismo não condena e nem determina essa atitude. Cada um que faça aquilo que lhe faz se sentir bem, com a responsabilidade de quem conhece a lei de causa e efeito.
Variadas análises podem ser feitas dos motivos que levam algumas pessoas a visitarem o túmulo de seus entes queridos. Às vezes é algo pessoal, uma saudade, a lembrança que o visitante sente de um tempo e da presença de alguém que lhe marcou a existência e que por motivo de força maior não tem como voltar. É muito mais para si mesmo do que para o outro que se foi. Outros seguem a tradição, o costume familiar, enfim, inumeráveis são as razões.
Divaldo Franco comenta num artigo (no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 02-11-2017) que na verdade, no entanto, é que a morte jamais destrói a vida. O libertar do corpo é fenômeno biológico, porém, o ser tem existência imortal, permanecendo além da material com os valores armazenados ao largo das reencarnações mediantes as quais se depura e ascende a Deus. Ele comenta que são muito respeitáveis as celebrações afetivas em memória dos mortos. Nada obstante, se fossem transformadas as flores em pães e alimentos para os esfaimados da Terra, em carinhosa evocação dos seres queridos, os resultados seriam muito mais valiosos e benéficos para os doadores e os beneficiados. Poderemos movimentar as pessoas à prática da caridade junto às criaturas sofredoras do mundo físico, aproveitando-nos desse dia singular, auxiliando-as a terem diminuída a miséria em que estorcegam e as dores que as maceram. Ao invés de visitar-se os cemitérios onde os mesmos não se encontram, ir-se aos lares de idosos abandonados, de criancinhas desvalidas e de enfermos, levando-lhes bênçãos de amor com a presença e dádivas socorristas. Teríamos um dia dedicado a minorar a solidão e exaltação da vida imortal.
O Espírito, ao despedir-se do corpo pela desencarnação, não se despede da vida. Ao contrário, a encontra em toda a sua plenitude, para habitar uma das “muitas moradas” da casa de nosso Pai.
Imprecações e blasfêmias não calarão o amor daqueles que se ligaram pelos mais nobres sentimentos.
Resta-nos trabalhar, como preceitua a Doutrina Espírita, a consciência coletiva da Humanidade, fazendo-a compreender que o “Espírito sopra aonde quer” e que a verdadeira manifestação de carinho deva dar-se na intimidade do coração, onde estejamos sempre que a saudade doer mais forte. Pela prece, que é o “celular” infalível que a bondade de Deus nos deu, estaremos sempre imantados uns com os outros.
As vibrações sinceras do afeto alcançarão sempre os que atravessaram a aduana dimensional da morte, porque permanecem entre nós como a suavidade de um perfume e como os acordes de uma doce melodia.
Sim, porque a morte não é a morte, mas a porta de entrada para a glória da vida.
Fonte:
http://www.mundoespirita.com.br/?materia=o-dia-de-finados
https://domtotal.com/noticia/1401023/2019/11/o-dia-de-finados-sob-a-perspectiva-do-espiritismo/
https://www.mensagemespirita.com.br/divaldo-franco/ad/dia-de-finados-por-divaldo-franco