A paciência é um hábito que precisamos criar e cultivar.
Para comer doces morangos é preciso semear, cultivar, ver as flores e então colher os morangos!
Cora Coralina diz num belo poema:
"Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz da tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir."
Em nossa passagem pela Terra , encontramos muitas situações em que, contra a nossa vontade, nossos planos desmoronam, nossos sonhos chegam ao fim. (1)
Somos impacientes, e a impaciência é um hábito também arraigado em nossa estrutura espiritual ao longo de nossas multifárias existências, gerando efeitos fisiológicos desagradáveis, como o estresse e a raiva. Pessoas iradas são mais propensas a ter câncer, a sofrer problemas cardíacos, dificuldades intestinais e estomacais.
Emoções mais agressivas, como a impaciência e a fúria, afetam uma seção do cérebro, pondo em funcionamento o sistema medular suprarrenal. A parte interior (medula) das cápsulas suprarrenais libera substâncias químicas conhecidas pelo nome geral de catecolaminas, sendo uma delas a adrenalina. Esta acelera o ritmo cardíaco, eleva a pressão arterial e faz subir o nível dos ácidos graxos no sangue. Essa ativação prolongada ou repetida pode provocar enxaqueca, hipertensão e mesmo distúrbios das coronárias e derrame.
Jesus afirmou: “Pela vossa paciência possuireis as vossas almas”. (2)
Escreveu o insigne mestre Allan Kardec em seus comentários: Educação moral é a arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. (3)
Precisamos treinar a paciência racional e operosa, não a paciência aparente na calma dos gestos ou na ação preguiçosa, pois a preguiça é a mãe de todos os vícios. Treiná-la como se treina qualquer atividade física ou psíquica para a possuirmos, pois a repetição faz o hábito.
Treinar a paciência é adquirir paz, porque a paciência é a ciência da paz. Quantas vezes por dia nós suportamos as pequeninas contrariedades com paciência? Quantas vezes nós recebemos um companheiro de trabalho, tachado de chato, com ternura, perdoando-lhe de antemão qualquer olhar de desaprovação, de cólera, que ele nos enderece? Quantas vezes conseguimos olhar para as pessoas com amor, sem aquele olhar de crítica?
Quando mudamos o hábito, reprogramamos nosso cérebro criando novas sinapses, novas conexões de neurônios. Hoje a neurolinguística, a psicologia positiva e a neurociência estudam formas de adquirir e mudar os hábitos que nos influenciam ao ponto de comandar nossas vidas.
Escreve com propriedade em O Evangelho Segundo o Espiritismo, um Espírito amigo, que não se identificou, na época, entretanto, hoje, conhecemos sua identidade: é a Veneranda Joanna de Ângelis. Ela possui duas páginas em O Evangelho Segundo o Espiritismo: A paciência, no capítulo IX, item 7; e: Dar-se-á àquele que tem, no capítulo XVIII, item 13.
Na página intitulada: A paciência, ela escreve:
“Sede pacientes. A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei da caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência”.
“A vida é difícil, bem o sei, compõe-se de mil nadas, que são outras tantas picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém, atentarmos nos deveres que nos são impostos, nas consolações e nas compensações que, por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito mais numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesado, quando se olha para o alto, do que quando se curva para a terra a fronte”. (4)
Devemos nos esforçar para sermos pacientes e suportarmos os defeitos dos que nos cercam, porque nós também temos muitos defeitos e eles precisam ser suportados pelos outros. Se ainda não somos como gostaríamos de ser, pacientes e tolerantes, por que exigir que as pessoas se comportem diferentes de nós?
Temos obstáculos, problemas, enfermidades? Iremos vencê-los se utilizarmos a paciência, a fim de não descambarmos em sofrimentos maiores.
Remova as sua pedras! Resolva seus problemas!
Se não puder removê-las, contorne-as. Isso o fará feliz!
Mas se você ficar apenas olhando para as pedras e reclamando irá se tornar infeliz.
No lugar das pedras plante morangos ou roseiras...
E faça doces... para despertar em nós a capacidade de transformação! (1)
Muita paz e sejamos mais pacientes e doces!
Notas bibliográficas:
1 - Feliz - José Carlos de Lucca
2 – Bíblia Sagrada – Lucas, cap. 21, vers. 19 – Padre Antônio Pereira de Figueiredo
3 – O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte 3ª, capítulo III, comentando a questão 685 – Feb.
4 – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – cap. IX, item 7 – “Um Espírito amigo” – Feb