A maioria de nós cresceu em lares onde a ordem matrimonial reinante sempre foi a de que os cônjuges tem a obrigação de permanecerem juntos até que a morte os separe, e infelizmente, é comum adotarmos essa prática em nossas relações , mesmo quando não haja mais nenhum relacionamento entre os parceiros que não seja a ofensa.
Talvez isto explique em parte as doenças que comumente aparecem entre os casais em crise, já que inconscientemente, a doença pode ser a chave para uma saída honrosa e permissiva de um casamento que adoeceu gravemente e morreu.
Então, podemos nos separar?
Mesmo diante da afirmativa do Cristo de que o homem não devesse separar o que Deus uniu?
Certamente a resposta é de que o casamento é compromisso para a vida toda; mas, é admissível e muitas vezes necessária a separação quando o respeito e a confiança são gravemente comprometidos ou sempre que os parceiros não se sintam mais envolvidos na paz que um relacionamento como esse deve proporcionar.
Quanto a célebre frase do Mestre “Portanto, o que Deus uniu o homem não separe”, merece uma interpretação mais coerente com as informações históricas de que dispomos atualmente.
Ler os relatos evangélicos sem levar em conta o estado evolutivo da humanidade na época de Jesus, é correr o risco de repetirmos o que o Cristo teria dito, sem sabermos ao certo se ele realmente falou tudo o que se interpretou de suas pregações.
Para quem de fato quer ter opinião formada sobre esse assunto, necessita ponderar sobre a dificuldade do momento em que Jesus sentenciou que o que Deus uniu pelo sentimento mais nobre do ser humano que é o amor, nem a autoridade machista dos homens da época poderiam separar.
É preciso remontar o cenário que o Cristo vivenciou com aquela sociedade primitiva, que ensaiava as suas primeiras leis civis, num momento histórico onde como Mestre, Jesus instituiu publicamente, que poderia ser justo que a mulher fosse repudiada por adultério ao invés de ser apedrejada até a morte, desde que também o homem, fosse considerado adúltero se com esta mulher se envolvesse.
Aqueles eram tempos difíceis para a mulher.
O homem detinha tal poder sobre sua mulher que se tornava seu amo e senhor, tendo os direitos de dono sobre seu corpo e suas aspirações.
Essa lei mosaica e machista se valia da autoridade dada aos homens de usufruírem de todos os serviços que uma mulher lhe prestava, e dava ainda ao marido o direito de dispensá-la quando bem entendesse, bastando entregar-lhe carta de divórcio ou de repúdio, desfazendo assim a união que não mais lhe interessasse. .
Com seu jeito sutil e de forma magistral, Jesus propôs uma troca inteligente; sabia que aquele povo quase hostil, não compreenderia sua visão sobre comportamento amoroso e por isso, concordou que a carta de divórcio fosse entregue e que a lei do repúdio fosse aplicada em troca da manutenção da vida, quando a infidelidade estivesse em questão.
Sabiamente, Jesus institui que a união dos corpos e da alma do casal, deveria ter a finalidade de viverem um para o outro e que a infidelidade é estágio grave quando o relacionamento adoece. Mas, seria um equívoco afirmar que Jesus tivesse determinado que toda infidelidade fosse sentenciada com uma carta de repúdio.
O Mestre previa que os tempos seriam outros, como graças a Deus, o são.
O divórcio é hoje, um benefício dado a dois seres que não conseguem mais viver juntos. É uma lei civil que apenas legitima quem não quer ou não consegue mais viver junto, e que só se concretiza após as garantias de que não haja mais condições de reconciliação.
Assim, na liberdade de nosso tempo, o casamento como todos os relacionamentos, tem as portas abertas por onde podemos entrar e viver com quem amamos ou acreditamos amar… Ou sair se não amamos mais ou se não nos entendemos mais.
Enquanto a compreensão da reencarnação nos alerta que precisaremos nos reencontrar em outros relacionamentos em outra vida para solucionarmos, seja pelo respeito ou pelo perdão a falta de caridade que tivermos com nossos parceiros, a psicologia constata que a sensação de fracasso que ambos os parceiros sentem após as separações, se assemelha as dores do luto.
Portanto nossa interpretação sempre foi pouco lúcida e mais uma vez Jesus demonstrou sua soberania; ele sempre soube que o que estiver unido pelo amor, homem algum pode separar, assim como nem a morte o pode.
A lei humana, no divórcio legaliza o que já está separado.
A ideia então, de que o divórcio age contra a família é totalmente infundada.
Pessoas se unem porque se amam, se desejam e se entendem. Separam-se porque deixaram de se amar, de se desejar e de se entender, ou se descuidaram e não perceberam quando o relacionamento adoeceu.
Fato é que não há separação sem conflito ou sem dor, mas, em tudo há também uma maneira menos conflitante e menos dolorosa de se agir.
Em momentos tão difíceis como nestes, torna-se imprescindível, que cada um procure se colocar no lugar do outro e exerça sua capacidade de tolerância e misericórdia.